terça-feira, 1 de novembro de 2011

Melancholia (2011)

Um dos grandes problemas da vida em sociedade é que poucas pessoas parecem aceitar que a melancolia é fundamental. A tristeza, a depressão, tudo isso faz parte da vida do ser humano - e, em algumas pessoas, ocupa a vida inteira.

"life is just on earth, and not for long"
Lars Von Trier é um dos diretores mais depressivos e angustiantes do cinema. Todo filme dele tem uma visão bastante pessimista em relação a vida, a humanidade e a sociedade (além das críticas aos Estados Unidos). Melancolia não é muito diferente dos seus Dogville (com Nicole Kidman se ferrando o filme todo), Dançando no Escuro (com Björk se ferrando o filme todo) e Anticristo (com Charlotte Gainsbourg se ferrando o filme todo). Em Melancolia, ficamos sabendo que a Terra vai colidir com um planeta chamado Melancolia (CÊ JURA) e acompanhamos eventos que ocorrem enquanto esse planeta se aproxima. Vemos a história de Justine, uma noiva melancólica no dia do seu luxuoso casamento em um castelo da Suécia, e de Claire, que recebe a irmã depressiva em sua casa faltando poucos dias para o fim do mundo.
A sentimento apocalíptico aqui é bem diferente dos blockbusters da vida, com etês ou grandes catástrofes. Em Melancolia, a humanidade não pode fazer nada para se defender, a não ser fazer com que cientistas neguem os fatos. Na primeira parte, acompanhamos o triste casamento de Justine. A gente percebe desde o início o desconforto com aquele matrimônio pela própria noiva; ela parece gostar do seu noivo, mas, na maior parte do filme, dá pra notar que ela se sente sufocada pela mãe, pelo chefe, pelos cuidados da irmã... (até o sexo é mostrado de forma angustiante). Justine passa toda a primeira parte do filme usando o vestido de noiva e está sempre desolada, fingindo estar contente para não decepcionar os outros. Muitos consideram a primeira parte bem enigmática; por que, afinal, ela está sempre triste? Acho que ela já está tomada pela melancolia, já não consegue viver sem ela. Como se ela já tivesse sido afetada pelo planeta que está chegando.


A segunda parte foca na vida familiar de Claire, que recebe a irmã Justine em sua casa em um estágio bem avançado de depressão, e para mim é bem mais interessante que a primeira. Claire está muito preocupada com a vinda do Melancolia, temendo pelo futuro do filho (quando ela fala isso com a irmã, ela ouve um "A vida na Terra é má [...] Ninguém sentirá falta dela"), enquanto Justine já parece ter se conformado. O desespero de Claire diante do fim de tudo que ela conhece, de tudo que ela ama, é muito bem explorado, e a gente se desespera junto com ele a cada vez que o planeta aumenta de tamanho no horizonte. O sentido de melancolia é melhor captado na primeira parte, mas a segunda me afetou muito mais. Se na primeira a gente nota uma crítica a instituição casamento e aos outros contratos sociais, na segunda a gente nota uma crítica discreta porém feroz a religião, feita de uma forma bem sagaz (uma cabana de gravetos servindo de proteção para o fim dos tempos).
Quanto aos aspectos técnicos, as atuações da Kirsten Dunst e da Charlotte Gainsbourg - que raio de sobrenome é esse? - estão FANTÁTICAS, bem memoráveis. É por causa dessas duas, combinado com uma trilha sonora, uma fotografia e uma direção (a câmera trêmula do Trier é bem atípica, além dos cortes bruscos no meio das frases) bem sofisticados, ajudam a tornar o filme um grande épico sobre a psicologia humana.


Melancolia é como um anti-Árvore da Vida (foi até apelidado de Tree of Death nos EUA): é pessimista, ateu, cético e violento. Vale muito a pena, principalmente para quem gosta de psicologia, do Lars Von Trier, literatura clássica e cinema russo (tem muitas referências no filme). Devo admitir que esperava um pouco mais; Von Trier tem filmes mais poderosos, como Dogville e Dançando no Escuro, apesar de Melancolia ter uma temática mais universal. Mas ainda assim é um dos filmes mais interessantes e angustiantes que eu já vi.

Melancolia (2011)
4.25/5
Com Kirsten Dunst (Homem Aranha), Charlotte Gainsbourg (21 Gramas), Charlotte Rampling (Não Me Abandone Jamais), Alexander Skarsgard (True Blood)

Um comentário:

  1. Poxa, queria muito baixar esse filme, mas das duas vezes que baixei não vem com legenda, você sabe onde posso encontrar?

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