domingo, 25 de dezembro de 2011

Sushi For Beginners - Marian Keyes (2004)

Confesso que sou uma amante e tanto de Marian Keyes, suas palavras, apesar de simples, conseguem nos convencer da história de cada personagem de uma maneira incrível e só notamos isso quando nos vemos xingando alguma personagem ou torcendo para o futuro de outra. Foi assim com Férias!, Melancia, e não muito diferente com Sushi.


A história se passa ao redor de três mulheres que têm suas vidas interligadas - não, está longe daqueles clichês de comédias românticas que têm esses encontros um tanto óbvios. Lisa Edwards é aquela típica mulher espetacularmente linda, bem sucedida e incansavelmente uma... bitch. Ok, me desculpe, mas não deixa de ser verdade. Em seguida, conhecemos Ashiling Kennedy, uma moça que se preocupada com tudo e todos, mas a vida dela é quase uma das últimas coisas das quais consegue dar um jeito. Sua melhor amiga é Clodagh Kelly, uma mulher que, aparentemente, possui tudo para ser feliz: um marido apaixonado e bonito, dois filhos saudáveis, uma boa casa... Porém, algo parece não estar indo muito bem, é como um vazio a preenchesse e ela não tivesse muitas saídas.

E assim, o destino mexe com a vida de cada uma delas levando-as a caminhos inesperados. Essa é magia de Marian Keyes, quando nada mais tira da sua cabeça que isso vai acontecer, vem a história e nos conta aquilo. É impressionante!

Mas o que mais me marcou neste livro foi o que estava por trás do desfecho, não que houvesse uma intensa mensagem de moral, mas me deixou consciente de que a felicidade é assim.
Assim como? 

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

The Godfather Saga

Assisti recentemente à trilogia do O Poderoso Chefão e resolvi fazer um post único falando dos três filmes porque #1 eles são uma sequência e se complementam tanto que praticamente são um filme só #2 e isso deixaria o blog mais dinâmico, risos.


The Godfather (1972)

Antes de tudo, para aqueles que nunca levaram a sério (como eu) as pessoas que davam o título de "melhor filme da história" a O Poderoso Chefão e enchiam o filme de elogios, saibam que: eles não estão errados. Sério, o filme é incrivelmente único; são três horas de uma história extremamente densa e cheia de reviravoltas. Se você perder uma fala, o filme todo deixa de fazer sentido.
O filme trata basicamente da saga dos Corleone, uma família mafiosa cujo chefe, Don Vito Corleone, é um influente siciliano que luta para continuar seu império contrabandista em Nova York e se relacionar com outras famílias de mafiosos. 
Essa é uma sinopse rasa, eu sei, que não faz jus ao roteiro de The Godfather, um dos mais simples e bem articulados já escritos. Mas o filme me conquistou mais por detalhes e por alguns momentos, que são épicos. O início dramático com um homem dizendo a frase "eu acredito na América" e logo em seguida fazendo um discurso contraditório, mostrando que a América pode ser hostil ao seus visitantes; a trilha sonora sempre tensa, casando direitinho com as conversas ameaçadoras; e, acima de tudo, a atuação lifechanging de Marlon Brando. Sério, não dá para imaginar nenhum outro ator no papel de Don Corleone. A gesticulação cansada, os risos raros, a voz rouca que consegue ser amedrontadora e ao mesmo tempo afetiva. Aliás, o título funciona bem mais na versão original, O Padrinho, porque, para além de ser o grande chefe, Corleone era um padrinho para toda a comunidade italiana em NY, sendo bem amoroso para sua família e amigos - e bem ameaçador para quem não pertence a nenhum dos dois grupos. 

Enfim, o filme vale completamente a pena. É possivelmente um dos melhores filmes que eu vi na vida - todos os momentos com o Al Pacino, com a Diane Keaton (que eu amo desde Annie Hall) e com o <3 Marlon Brando <3 são sensacionais, emocionantes, tensos e dramáticos. Uma pena que só vi essa maravilha agora.

O Poderoso Chefão (1972)
4.98/5
Com Marlon Brando (O Último Tango em Paris), Al Pacino (Scarface), Robert Duvall (Impacto Profundo), James Caan (Nova York, Eu Te Amo) e Diane Keaton (Noivo Neurótico, Noiva Nervosa)
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The Godfather: Part II (1974)

São raras as vezes em que uma sequência é tão boa quanto ou ainda superior a obra original, e a parte 2 da trilogia do Godfather certamente está nesse grupo. Muitos discutem qual é o melhor, o primeiro ou o segundo, mas isso não é tão importante assim, já que ambos os filmes são maravilhosos. No segundo filme da trilogia, a gente acompanha os novos rumos da família Corleone, com o Michael (interpretado pelo Al Pacino) se tornando o novo Don. A família agora se mudou para Lago Tahoe e Michael tenta ampliar os negócios da família para a costa leste e Havana. Paralelamente, acompanhamos a história da ascensão de Vito Corleone (feito dessa vez pelo Robert De Niro), cinquenta anos atrás, sua chegada a América e a construção da sua família.
Enfim, o filme é fantástico! A junção das duas histórias (o difícil começo de Michael na liderança da família e a vida de Vito antes de se tornar o grande Don Corleone) funciona muito bem e, se a primeira e principal é muito boa, a segunda é excelente. O início da vida adulta de Vito na Nova York dos anos 10 é perfeito; a relação dele com a mulher (a cena dele dando uma pera para ela é uma das mais bonitas), com o filho e com os amigos que ele vinha fazendo; a inserção dele no mundo "do crime", tudo foi muito bem abordado, e a atuação do Robert De Niro está ainda melhor que em Taxi Driver. A história de Michael também é ótima; o novo Don não consegue expandir seus negócios e manter uma relação boa com a família como o antigo fazia, o que torna tudo muito dramático e imprevisível. Al Pacino tem nesse filme a melhor atuação de sua carreira, e consegue ser ainda mais badass que o Corleone original.

O Poderoso Chefão: Parte II é tão épico e marcante quanto o primeiro. É um filme de quatro fucking horas, mas que tem um ritmo muito bom e os diálogos e situações são quase todos muito tensos. E apesar de ter menos cenas sangrentas que o primeiro, todas são bastante recompensadoras, rs. Vale tanto a pena quanto o primeiro - a imagem de Michael como o novo padrinho é super marcante e as cenas de discussão entre ele e a mulher são i-nes-que-cí-ve-is. 

O Poderoso Chefão: Parte II (1974)
4.99/5
Com Al Pacino (Treze Homens e um Novo Segredo), Robert De Niro (Taxi Driver), Diane Keaton (Loucas por Amor, Viciadas em Dinheiro), John Cazale (O Poderoso Chefão) e Robert Duvall (Apocalypse Now)
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The Godfather: Part III (1990)

Muitos dizem que essa é a pior parte da trilogia. Bom, eu prefiro vê-la como a menos melhor, porque eu gostei bastante. É o filme menos marcante dos três, com poucas sequências memoráveis ou cenas sensíveis. Mas é o que tem o maior número de pancadaria, de explosões e de lavação de roupa suja. 
A história também é a menos interessante dos três filmes: no início dos anos 80, divorciado da esposa, Michael tenta legalizar os negócios da família, apesar de ainda lidar com negócios sujos com grandes mafiosos e com o Vaticano, e lidar com alguns grandes inimigos.
A Parte III é a que mais faz jus as raízes italianas da família, com muitas cenas em italiano passadas na Sicília e longos momentos dedicados à ópera. O Al Pacino envelheceu mal, mas sua atuação continua ótima (embora na Parte II ele esteja melhor), com ele segurando muito bem as partes mais dramáticas do filme, e a atuação da Diane Keaton também continua muito boa, já que aqui ela aparece um pouco mais. Apesar de não ser um filme de atuações maravilhosas como os anteriores, as relações familiares continuam bem abordadas.
O filme tem também algumas cenas longas demais e diálogos meio monótonos, além de algumas atuações bem fraquinhas, como a de Sofia Coppola - que aliás é filha do diretor.

Enfim, a última parte da saga lendária dos Corleone não deixa de ser ótima, apesar de não ter o mesmo charme dos anos 40/50 nem muitos momentos marcantes. Apesar de ter alguns problemas, o filme merece ser conferido; a produção e roteiro são bons e o final é lindo. Mas mais lifechanging que o Marlon Brando dando um tapa delicioso na cara de um cantor italiano chorão e que o Al Pacino gritando loucamente com os amigos, inimigos e com a esposa... definitivamente não é.

O Poderoso Chefão: Parte III (1990)
4.89/5
Com Al Pacino (Perfume de Mulher), Diane Keaton (Uma Manhã Gloriosa), Sofia Coppola (Star Wars: Episódio I: A Ameaça Fantasma), Andy Garcia (Confusões em Família) e Joe Mantegna (Os Simpsons - O Filme)

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Amy Winehouse - Lioness: Hidden Treasures (2011)

É impressionante o quanto Amy foi marcante mesmo com uma discografia tão pequena. Depois de sua morte, eu pensei que ficaria nisso mesmo - uma grande cantora com apenas dois grandes álbuns -, mas ela havia feito várias gravações, demos e covers que ficaram escondidos dos fãs por vários anos. Então fizeram um compacto com essas gravações num álbum lindo, que, apesar de ter poucas músicas originais, é repleto do amor que a Amy tinha pelo jazz dos anos 50/60, e que apesar de não ser tão marcante quanto o Frank e muito menos quanto o Back to Black, é um dos cds mais deliciosos do ano.

Amy Winehouse - Lioness: Hidden Treasures
4.47
/5
Lioness: Hidden Treasures não é lá um álbum que você vai se surpreender ouvindo; as regravações são bem ao estilo do Frank, de 2003, e as poucas faixas originais seguem a mesma linha do Back to Black, de 2006. Em compensação, algumas músicas são bem divertidas e razoavelmente surpreendentes, como "Like Smoke", que ela canta com um rapper aleatório e fica ecoando na cabeça depois de você ouvir. "Our Day Will Come" tem umas batidas de reggae bem legais e "Will You Still Love Me Tomorrow" tem um dos refrões mais deliciosos e uma daquelas letras melodramáticas que a gente adora. "The Girl From Ipanema" é. a. coisa. mais. linda. É bem mais agitada que a bossa nova original, mas ficou uma maravilha na voz da Amy. A melhor música do disco é, inegavelmente, "Body and Soul", um dueto dela com o Tony Bennett - dois cantores bem distintos, mas com vozes maravilhosas. É provavelmente o pico emocional do álbum, uma das faixas mais sentimentais e dramáticas da discografia da cantora. 
Lioness tem também demos ótimas, como "Tears Dry" e "Valerie", e regravações um pouco fraquinhas, como "Half Time", do Frank Sinatra, e "A Song For You", do The Carpenters, que são bem melhores nas versões originais. Já algumas composições originais, como "Best Friends, Right?" e "Between The Cheats", são bem divertidas.


Enfim, Lioness: Hidden Treasures é um daqueles álbuns ~para matar a saudade~ da cantora inglesa que reinventou um gênero praticamente esquecido. Amy exibe sua voz majestosa e deixa a gente triste por ter saído de cena tão rápido. Não é um dos melhores lançamentos do ano e não chega a ser tão inesquecível quanto os anteriores, mas é uma delicinha e uma das provas de que Amy foi e sempre será uma das melhores coisas que já surgiram desde sempre.
Ouça: "Will You Still Love Me Tomorrow", "Body and Soul" e "The Girl From Ipanema"

sábado, 10 de dezembro de 2011

My Fair Lady (1964)

Nuna noite chuvosa em Londres, um arrogante professor de fonética conhece Eliza Doolittle, uma vendedora de flores que fala terrivelmente mal. Quando ela vem lhe pedir para que ele a ensine a falar corretamente, um amigo do professor aposta com ele se ele conseguiria transformá-la numa dama num curto intervalo de tempo.
Essa é a história de Minha Bela Dama, filme considerado um dos maiores clássicos entre os musicais de todos os tempos, que tem como protagonista a linda da Audrey Hepburn, um dos rostos mais conhecidos/adorados de Hollywood.

<3 <3 <3
Sabe aqueles filmes ingênuos que ganham mais pela simpatia com que a história é contada do que pela própria história? Então, Minha Bela Dama é um desses. É um filme típico da década em que foi produzido, com cenas longas, diálogos divertidos e roteiros bem leves. A atuação da Audrey Hepburn está muito boa; ela consegue fazer a gente rir bastante com o sotaque esganiçado dela e seu comportamento. A maioria dos números musicais são ótimos - apesar da Audrey ter sido dublada nas músicas, rs - e funcionam no filme, sendo bem naturais e divertidos. Todos os personagens são bacanas - exceto o pai da Eliza, que é um saco - e até o Professor Higgins, um personagem arrogante e misógino que tem mais números musicais do que deveria, é divertido. O filme tem TRÊS FUCKING HORAS de duração, mas a história flui tão sutil que a duração nem parece tão assustadora - no meu mundo, só O Poderoso Chefão tem o direito de durar tanto, e olhe lá.

"i ain't dirty! i washed my face and hands before i come, i did."
Apesar de ser um filme bem leve e inocente, senti falta de momentos épicos, entende? Afinal, ele ganhou o Oscar de melhor filme, vencendo inclusive de Dr. Fantástico, clássico do Kubrick. O filme tem um tom meio romance/pastelão que funciona muito bem, mas não o suficiente para que ele seja considerado um grande clássico. Além disso, o filme demora um pouco para chegar no seu ápice, e, quando chega, é meio decepcionante. E o final, apesar de fazer todo sentido, é meio forçado demais.
Enfim, Minha Bela Dama é um feel good movie enorme bem leve e bonito, com interpretações ótimas e músicas bem agradáveis, apesar de tudo ser um pouco impregnado com o sexismo da época. Achei melhor que Bonequinha de Luxo, outro pequeno clássico com a Audrey, e inferior à A Noviça Rebelde. Mas vale completamente a pena.

Minha Bela Dama (1964)
3.79/5
Com Audrey Hepburn (Bonequinha de Luxo), Rex Harrison (Cleópatra), Stanley Holloway (O Mistério da Torre) e Wilfrid Hyde-White (Adorável Pecadora).

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Melancholia (2011)

Um dos grandes problemas da vida em sociedade é que poucas pessoas parecem aceitar que a melancolia é fundamental. A tristeza, a depressão, tudo isso faz parte da vida do ser humano - e, em algumas pessoas, ocupa a vida inteira.

"life is just on earth, and not for long"
Lars Von Trier é um dos diretores mais depressivos e angustiantes do cinema. Todo filme dele tem uma visão bastante pessimista em relação a vida, a humanidade e a sociedade (além das críticas aos Estados Unidos). Melancolia não é muito diferente dos seus Dogville (com Nicole Kidman se ferrando o filme todo), Dançando no Escuro (com Björk se ferrando o filme todo) e Anticristo (com Charlotte Gainsbourg se ferrando o filme todo). Em Melancolia, ficamos sabendo que a Terra vai colidir com um planeta chamado Melancolia (CÊ JURA) e acompanhamos eventos que ocorrem enquanto esse planeta se aproxima. Vemos a história de Justine, uma noiva melancólica no dia do seu luxuoso casamento em um castelo da Suécia, e de Claire, que recebe a irmã depressiva em sua casa faltando poucos dias para o fim do mundo.
A sentimento apocalíptico aqui é bem diferente dos blockbusters da vida, com etês ou grandes catástrofes. Em Melancolia, a humanidade não pode fazer nada para se defender, a não ser fazer com que cientistas neguem os fatos. Na primeira parte, acompanhamos o triste casamento de Justine. A gente percebe desde o início o desconforto com aquele matrimônio pela própria noiva; ela parece gostar do seu noivo, mas, na maior parte do filme, dá pra notar que ela se sente sufocada pela mãe, pelo chefe, pelos cuidados da irmã... (até o sexo é mostrado de forma angustiante). Justine passa toda a primeira parte do filme usando o vestido de noiva e está sempre desolada, fingindo estar contente para não decepcionar os outros. Muitos consideram a primeira parte bem enigmática; por que, afinal, ela está sempre triste? Acho que ela já está tomada pela melancolia, já não consegue viver sem ela. Como se ela já tivesse sido afetada pelo planeta que está chegando.


A segunda parte foca na vida familiar de Claire, que recebe a irmã Justine em sua casa em um estágio bem avançado de depressão, e para mim é bem mais interessante que a primeira. Claire está muito preocupada com a vinda do Melancolia, temendo pelo futuro do filho (quando ela fala isso com a irmã, ela ouve um "A vida na Terra é má [...] Ninguém sentirá falta dela"), enquanto Justine já parece ter se conformado. O desespero de Claire diante do fim de tudo que ela conhece, de tudo que ela ama, é muito bem explorado, e a gente se desespera junto com ele a cada vez que o planeta aumenta de tamanho no horizonte. O sentido de melancolia é melhor captado na primeira parte, mas a segunda me afetou muito mais. Se na primeira a gente nota uma crítica a instituição casamento e aos outros contratos sociais, na segunda a gente nota uma crítica discreta porém feroz a religião, feita de uma forma bem sagaz (uma cabana de gravetos servindo de proteção para o fim dos tempos).
Quanto aos aspectos técnicos, as atuações da Kirsten Dunst e da Charlotte Gainsbourg - que raio de sobrenome é esse? - estão FANTÁTICAS, bem memoráveis. É por causa dessas duas, combinado com uma trilha sonora, uma fotografia e uma direção (a câmera trêmula do Trier é bem atípica, além dos cortes bruscos no meio das frases) bem sofisticados, ajudam a tornar o filme um grande épico sobre a psicologia humana.


Melancolia é como um anti-Árvore da Vida (foi até apelidado de Tree of Death nos EUA): é pessimista, ateu, cético e violento. Vale muito a pena, principalmente para quem gosta de psicologia, do Lars Von Trier, literatura clássica e cinema russo (tem muitas referências no filme). Devo admitir que esperava um pouco mais; Von Trier tem filmes mais poderosos, como Dogville e Dançando no Escuro, apesar de Melancolia ter uma temática mais universal. Mas ainda assim é um dos filmes mais interessantes e angustiantes que eu já vi.

Melancolia (2011)
4.25/5
Com Kirsten Dunst (Homem Aranha), Charlotte Gainsbourg (21 Gramas), Charlotte Rampling (Não Me Abandone Jamais), Alexander Skarsgard (True Blood)

domingo, 30 de outubro de 2011

Q&A (2006)

Q&A é um livro publicado em 2006, cuja a tradução de seu título é Sua Resposta Vale Um Bilhão. Reconhece este nome?
Não, isso não é nenhum programa do Silvio Santos ou qualquer outro parecido com Mega Senha, mais sim a obra que originou o filme vencedor de oito (!) Oscar, Quem Quer Ser Um Milionário? (Slumdog Millionaire).

Capa do livro antes do filme ser lançado 

Acabei fazendo o processo inverso: li o livro após ter assistido o filme, mas nada que atrapalhasse as surpresas ou coisas assim, visto que são praticamente duas histórias diferentes.
A essência é a mesma em ambos: o menino indiano órfão e pobre que ao entrar num programa de perguntas e respostas é preso por acertar todas as perguntas.
Mas se a base da história é a mesma, como elas podem se diferenciar tanto?
Começando por um simples detalhe: o nome da personagem principal: Ram Mohammed Thomas, no livro, e Jamal, no filme.
No livro, escrito em flashback - o que dá um toque a mais na obra  - a razão pela qual Ram é preso é totalmente diferente da questão apresentada no livro; seu irmão, também, parece ser outra pessoa! Ou seja, são histórias diferentes, o que Ram e Jamal passaram não foi a mesma tragetória, muito menos com as mesmas personagens, apesar de algumas se repetirem.

Capa do livro após o lançamento do filme dirigido por Danny Boyle

Ram vai contando sua vida de uma maneira extremamente encantadora. A cada página que passa, mais vontade você tem de saber o que aconteceu com o rapaz, morre de curiosidade para descobrir as respostas e razões de determinados fatos da sua história. Um livro que, por sua simplicidade, é ao mesmo tempo viciante pelo carisma que há dentro dele.

Devo dizer que, apesar de toda essa distinção entre as obras, tanto o livro, quanto o filme são incrivelmente bons - confesso que tenho uma enorme paixão pelos filmes de Danny Boyle, que fez uma ótima adaptação do mesmo. Por isso, para quem assistiu o filme, se interessou, não deixe de ler o livro, caso tenha uma oportunidade e depois reveja-o e note quantas diferenças há entre os dois!

sábado, 29 de outubro de 2011

District 9 (2009)

Há 20 anos uma nave alienígena pousou na Terra e desde então nós tivemos que conviver com eles. Confinamos os ets num campo de concentração chamado Distrito 9, não sem antes de uma série de conflitos, mortes e experimentos com eles. Depois de uma série de reclamações de humanos que não queriam os aliens por perto, tivemos que mudá-los de lugar - mas eles não querem se mudar de novo.


Existem várias coisas que fogem do clichê e do lugar-comum em filmes de alienígenas invadindo a Terra em Distrito 9. A primeira delas, talvez, é que a história se passa em Johanesburgo, a cidade mais importante da África do Sul. Basta ligar os fatos para saber que a história é uma grande analogia às políticas de segregação do apartheid - é interessante como os humanos chamam os alien de camarões, assim como os brancos chamavam os negros de macacos. Além de ser uma ficção cientifica mais politizada, aqui não vemos a separação de personagens do bem e personagens do mal. Aqui tanto humanos quanto alienígenas são violentos, lutam pelos seus direitos (ou por direitos que não tem) e pela sobrevivência. O filme é sul-africano e os efeitos especiais, que são muitos, não fazem feio diante de um Transformers da vida. 
A história central é bem básica: um cara da MNU (que é tipo um órgão da ONU) é encarregado de entregar as ordens de despejo para os aliens saírem de seus barracos - o Distrito 9 é muito próximo dos bairros de Johanesburgo; a convivência com os humanos era caótica. Numa visita, ele conhece e discute com Christofer, um et que com seu filho (um lindinho rs) está criando uma fórmula para consertar a nave e voltar para casa, invade a casa dele e entra em contato com um líquido preto, que acaba transformando seu corpo em um corpo de alienígena - e passa a ser visto como uma abominação até pela sua própria família, restando a ele apenas a ajuda dos ets que ele prejudicou (lembrou de Laranja Mecânica?).


O filme tem muita ação e um roteiro bem inteligente - diferente das sci-fies mais recentes, tipo Super 8 ou Cowboys & Aliens. As atuações, dos atores que fazem os alienígenas e os humanos - um elenco bastante desconhecido -, estão bem convincentes, e a história é bem inovadora ao colocar ets e pessoas convivendo e não lutando por um pedaço de terra. A gente acredita o tempo todo que tem uma nave pairando sobre uma cidade da África do Sul, e o nosso amor pelo Christofer cresce em proporção geométrica ao longo do filme. Mas o filme não é perfeito; tem algumas brechas no roteiro e eu ainda não consigo entender como humanos e aliens se comunicam. Humanos falam em inglês e os aliens numa língua extra-terrestre (CÊ JURA) e ambos se falam super bem. Quer dizer, não é que nem o ET do Steven Spielberg, que se esforça todo para falar telefoooooona minha caaaaaaasa.
Distrito 9 é um filme muito interessante e é bastante válido que seja um dos primeiros filmes sul-africanos a ganhar destaque internacional. Como se as cenas de ação não valessem pelo filme todo, ele ainda vem com uma responsabilidade social bem grande. Vale bastante a pena.

Distrito 9 (2009)
4.09/5
Com Sharlto Copley (Esquadrão Classe A), Jason Cope (Juízo Final), Nathalie Boltt (Juízo Final), John Summer (King Kong) e William Allen Young (O Despertar para a Vida)

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A Quarta Ponte - 2ois (2010)

Conheci essa banda por acaso há uns meses atrás, mas só ouvia uma música ou outra no youtube. Só agora vim descobrir que eles tem um cd, e, olha, é um cd delicioso, daqueles que não é difícil gostar de todas as músicas (tipo o 21, da Adele, ou o Californication, do Red Hot Chilli Peppers).
O 2ois (pronuncia-se dois, rs) é uma banda de acústico-experimental (!), liderada por Leonardo Ramos e General Sih. A banda ficou conhecida com a música "Ciúmes do Tamanho do Planeta Terra", cujo clipe foi assistido por mais de trezentas mil pessoas no youtube - que é pouco, se a gente comparar com os números de qualquer viral ou artista mainstream, mas é considerável se tratando de uma banda brasileira experimental - e que rendeu um contrato com uma gravadora. E, em 2010, veio A Quarta Ponte.

A Quarta Ponte (2010)
4.01/5

A Quarta Ponte é um disco bem leve e agradável com músicas bem indies de título longo e letras sobre o cotidiano. É quase impossível não se identificar com as letras; não é nada sobre grandes decepções ou dramas amorosos, mas sobre os problemas e alegrias do cotidiano, sobre engarrafamentos, hipocondria, tédio, saudades, ansiosidade, amizades coloridas e transplantes de rim. Há muito tempo eu não escutava músicas assim, tão próximas da realidade, tão viciantes. Minhas preferidas são "Eu Pago Inteira Pra Ela, Ela Só Quer Meia Entrada", "Olá, Eu Sou Um Fantasma" e "O Astronauta" (uma pena que "Se Eu Não Jogasse Voleibol Eu Estaria Abatendo Boi" não é do álbum, porque estaria no meu top 3 também). Impossível não curtir.
Para mais informações sobre o 2ois é só dar uma passada no myspace e no site oficial :))) Ah, dá uma conferida no clipe de "Ciúmes do Tamanho do Planeta Terra" - nada mal para uma banda "amadora".

eu vou comprar uma algema pra prender você em mim
você em mim
eu vou negar qualquer pedido seu pra sair daqui
sair de mim

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

The Tree of Life (2011)

"Os homens ensinaram que a vida pode seguir dois caminhos: o caminho da natureza e o caminho da graça". Essa frase é uma das primeiras e mais importantes de A Árvore da Vida, apontado por muitos como o melhor (ou o pior) filme do ano até agora. A frase aponta os dois caminhos que se pode escolher para seguir a vida; o caminho natural, instintivo e profano, e o caminho divino, do auto-controle. Há como ser feliz seguindo qualquer um dos dois, mas a escolha deve ser definitiva.


A Árvore da Vida conta a história de uma família americana dos anos 50, cujo chefe é um pai rígido e opressor e a mãe é o porto-seguro de afeição dos filhos, sob a perspectiva do filho mais velho. Sean Penn vive esse filho (apesar de não ser o protagonista ou o narrador), que, mesmo vivendo nos dias atuais, ainda sofre com o trauma da morte do irmão. Num dia melancólico, ele resolve reviver suas memórias de família.
Bom, devo dizer que A Árvore da Vida é um dos filmes mais desafiadores que eu já assisti, superando filmes como Donnie Darko e Fonte da Vida). Ele é diferente de tudo que já vi, desde alguns diálogos - repletos de frases (e imagens!) subjetivas - até imagens de coisas banais, como uma borboleta ou o voo de pássaros, parecem ser coisas completamente diferentes e assumem vários significados. Ele não é nem de longe um filme fácil; é preciso muita paciência e atenção para assisti-lo (pense no esforço para assistir A Origem e nos momentos que você precisou parar para pensar em Cisne Negro). Vi tanto gente dizendo que o filme é "o melhor do ano" (mesmo sem o ano ter acabado ainda), quanto gente dizendo que o filme é "duas horas de imagens aleatórias e frases sem sentido". Ou seja, ou você ama ou odeia. (Ah, muita gente diz que o filme é chato: essa galera deveria saber que o filme original tem 6 horas de duração, essa aí é só a parte editada, OU SEJA)
A Árvore da Vida tem como "foco" um garoto aprendendo a amar e a odiar. Várias cenas são bem emocionantes, como quando o pai ensina o filho a se defender, num exercício que mais os afasta que os une, ou quando o garoto nasce e vemos o pai maravilhado com o pé do filho. Brad Pitt está muito bem no papel do pai autoritário, mas a melhor atuação do filme é da desconhecidíssima Jessica Chastain no papel da mãe amável. Melhor atuação feminina desde... Natalie Portman, em Cisne Negro! Quanto aos termos técnicos, vi um crítico dizendo que A Árvore da Vida é o "filme mais bonito da história", e, olha, acho que não discordo. A fotografia, assim como a trilha sonora, é perfeita, bastante peculiar e fundamental para o "funcionamento" da história.


O tema do filme é universal; não tem como não se identificar com um menino que questiona "Por que eu tenho que ser bom se você não é?" (numa pergunta que não fica clara se é para o pai, para o próprio Deus ou para os dois), com uma mulher que vê seus filhos crescerem num piscar de olhos, com um ~namoro~ pré-adolescente, com alguém que se pergunta se deve crer em Deus ou não, com a compaixão que um dinossauro grande sente por um pequeno e indefeso... (Sim, tem dinossauros no filme!) A questão religiosa é muito mais profunda do que aparenta: Deus é por vezes visto como um pai malvado, mas é também a razão de tudo. A "Criação de Deus" também aparece no filme numa sequência que remonta a origem do universo e da vida na Terra. Mas o que isso tem a ver com a história original, da família do Brad Pitt?
Tudo. Para narrar a relação entre os pais e os filhos, os filhos e o mundo, o filme mostra, de forma literal, o Big Bang, as explosões vulcânicas, os primeiros seres vivos, os organismos unicelulares... Tudo para mostrar que para entender a história de uma família, é necessário entender a história do mundo, da vida, porque tudo está conectado, tudo pertence a mesma coisa - a Criação.


A Árvore da Vida conquista também pelos detalhes, que são vários; desde a falta de um furo na orelha da mãe até a forma de segurar um talher. Mas muita coisa é realmente bastante complicada para entender. Dá para perceber que, quando o personagem do Sean Penn nasce e passa uma cena de uma casa submersa e um menino saindo dela a nado, isso é uma analogia a saída do útero. Ok. Mas alguns simbolismos são tão desafiadores que a gente acaba desistindo de entender algumas partes - como um caixão de vidro no meio da floresta (?). O final é também bastante enigmático, mas ao mesmo tempo bem esclarecedor. Deixa bem claro que o mais importante, por mais clichê que isso soe, é o amor. Talvez uma das frases mais quotáveis do filme é: "A única forma de ser feliz é amando. Sem o amor, sua vida passará como um relâmpago."
Enfim, assistir ao filme é uma experiência inesquecível. Ele é merecedor de todos os elogios que vem ganhando, até os mais exagerados e emocionados (ganhou o prêmio principal de Cannes e é um forte candidato a melhor filme no Oscar do ano que vem). A Árvore da Vida é uma história simples e complexa ao mesmo tempo, um filme sensível e bonito sobre amor, perdão, família, Deus e sobre o sentido da vida.

A Árvore da Vida (2011)
4.87/5
Com Brad Pitt (Bastardos Inglórios), Jessica Chastain (Histórias Cruzadas), Sean Penn (Milk - A Voz da Igualdade), Fiona Shaw (Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte 1), Nicolas Gonga (Doze Homens e um Outro Segredo) e Hunter McCracken.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Moto Contínuo - China (2011)

Soube deste ilustre músico quando a MTV resolveu revolucionar sua programação. 
Apresentador do MTV Na Brasa, China traz toda semana alguma banda brasileira aos estúdios com uma conversa sempre bem interessante, além de mostrar outras tendências da música nacional atual. Mas a questão aqui não é sua performance como um apresentador de televisão, mas sim como (um grande) cantor!

Em 2004, lançou um EP chamado Um Só, com apenas cinco músicas agitadas, com bastante ritmo e sotaque pernambucano fofíssimo! As minhas favoritas são Contra Informação e Ainda Esquento o Barracão.

Durante muito tempo sem lançar nada , porém fazendo alguns shows com a banda Del Rey, na qual faziam covers de Robertos Carlos e seu amigo Erasmo Carlos, em 2011 China volta com toda energia e qualidade com seu novo disco.


O albúm está disponível para download no próprio site do cantor, é só clicar na imagem!

Moto Contínuo é um albúm recheado das mais diversas participações especiais, desde Tiê até Pitty e é fácil de conquistar qualquer ouvinte. O estilo das músicas é bem variado, com músicas de refrão grudento - Todo malandro tem seu dia de otário!, músicas para dançar, para acalmar, para fazer o que quiser! Não deixe de escutar Só Serve Pra Dançar, Terminei Indo e Overlock.

É até um pouco difícil falar de algo que me agradou tanto. China, junto de inúmeros outros artistas, é mais uma prova de que a música brasileira deve ser valorizada pela sua população, pois há muita coisa boa espalhada por esse país, minha gente!

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Taxi Driver (1976)

Até onde a solidão pode levar um homem ou uma mulher? A alienação e o deslocamento são produtos da sociedade ou são naturais do ser humano? E qual o papel da violência em meio a tudo isso? Essas são só algumas das questões levantadas por Taxi Driver, clássico de Scorsese, de 1976.

tentei fazer alguma piada sobre o cabelo dele, mas não consegui
O filme conta a história de Travis, um veterano de guerra, que se sente alheio a tudo e bastante deslocado da vida em sociedade. Ele nutre um ódio enorme pela "sujeira do mundo", representado pelos guetos da cidade de Nova York, e começa a exercer sua psicopatia depois de conhecer Iris, uma prostituta infantil.
Devo dizer que nunca vi um filme do Scorsese antes, e acho que comecei bem. Taxi Driver é um conto bem peculiar sobre um homem deslocado e sozinho, que, como sofre de insônia (lembrou de Clube da Luta?), passa as noite observando a cidade em seu táxi. A primeira metade do filme é bem lenta - com umas partes meio monótonas, mas nada que atrapalhe o ritmo do filme -, mostrando a relação do Travis com seus colegas de trabalho e com uma militante de um partido político pela qual ele acaba se afeiçoando. O filme mostra o taxista como um alienado em sua própria solidão; ele demora a responder perguntas, não tem noção do que é ou não é aceitável (quem, afinal, levaria alguém para um cinema pornô no primeiro encontro?), etc. E a gente só se impressiona com toda essa alienação graças a atuação incrível do Robert de Niro. Ele segura o filme inteiro com seus trejeitos de psicopata-social (vide Dexter) e impressiona mais ainda quando libera todo esse lado violento.


Acho que todo mundo conhece aquela cena do "are you talking to me?". Talvez este seja o monólogo mais famoso do cinema; é a cena na qual o Travis questiona seu comportamento passivo, logo depois de conhecer uma menina prostituta (interpretada pela Jodie Foster aos 14 anos!) e resolver libertá-la de seu cafetão. É a partir daí que o filme fica mais interessante: a gente conhece o "verdadeiro Travis", prestes a fazer justiça com as próprias mãos.
O filme é cultuadíssimo, e não falta cinéfilo dizendo que se aproxima de O Poderoso Chefão em termos técnicos. Para completar, o final é bem contraditório, dando margem a várias interpretações.
Enfim, Taxi Driver tem atuações ótimas, direção e trilha sonora idem - apesar de um solo irritante de saxofone que toca o-filme-inteiro. É uma experiência super válida e um dos melhores dramas (e thrillers psicológicos, apesar do ritmo lento) sobre psicopatia já feitos.

Taxi Driver (1976)
4.47/5
Com Robert De Niro (Entrando Numa Fria), Peter Boyle (Meu Papai É Noel), Jodie Foster (O Quarto do Pânico), Cybill Shepherd (The L World) e Harvey Keitel (Pulp Fiction).

domingo, 23 de outubro de 2011

Welcome to the jungle

Edward aprova o nome do blog
Primeiro post é sempre complicado, então vamos ser bem objetivos. Ao contrário do que você deve estar pensando por causa do nome do blog, esse não vai ser um espaço no qual eu e a Thaís (a garota da foto ao lado) iremos ensiná-los a fazer origamis ou aquelas coisinhas do-yourself com tesoura sem ponta. O objetivo do João, Thaís e Tesouras é falar sobre o último filme que a gente viu, o último cd que a gente escutou ou o último livro que a gente leu, afinal, essas são algumas das coisas que mais importam. Não esperem críticas super elaboradas nem nenhuma análise muito profunda do que nós iremos falar aqui; não somos especialistas em cinema, música ou literatura, estamos aqui apenas para compartilhar as últimas coisas que viemos consumindo. E, sim, o Edward Mãos-de-Tesoura é uma constante nas nossas vidas e nesse blog também.