sábado, 14 de janeiro de 2012

Top 3: Musicais esquecidos

Musical nunca foi um gênero que a maioria das pessoas morressem de amores. Galera tem certo preconceito com os personagens que saem cantando em mesas de restaurante, o que acho meio injusto, visto que é um gênero que eu gosto bastante e de quase tudo que lembra ele (curto até alguns musicais que a maioria das pessoas acha sem graça, como Nine e Fame, ou infantil, como o <3 novo filme dos Muppets <3). E quando a gente fala de musicais logo vem a mente aqueles que todo mundo conhece, tipo A Noviça Rebelde ou Moulin Rouge. Mas há aqueles musicais que ficam bem renegados, talvez pelas músicas não serem muito populares ou qualquer outro motivo. Enfim, aqui um top 3 de alguns musicais que a vida deixou mais obscuros que Sweeney Todd.

não tem nada a ver mas eu não queria deixar sem gif

#3 Dancer in the Dark (2000)
Talvez esse não seja um dos mais esquecidos, porque é dirigido pelo Lars von Trier, mas deve ser o mais evitado pela sinopse depressiva, risos. Sério, o coloquei aqui porque dentre os musicais que muitos fãs de musicais não viram, esse chama muita atenção pela história lifechanging; é um dos raros musicais em que as músicas não são sempre os pontos altos. O filme é chocante demais e a atuação da Björk (que eu detesto) tá tão verdadeira, tão crível, que torna o filme ainda mais verossímil. As músicas são bem a cara da Björk, mas não tão ruins assim rs, e os números musicais assumem um ar de fantasia típico dos musicais mais clássicos, como Mary Poppins e Cantando na Chuva. A história é de uma imigrante tcheca que trabalha todos os dias com o objetivo de juntar dinheiro para fazer uma cirurgia no seu filho que tem uma doença hereditária que o deixará cego em pouco tempo. E, durante a noite, ela ensaia os números de alguns dos seus musicais favoritos para esquecer das mágoas da vida.
Vale muitíssimo a pena. Tocante, surpreendente e um dos filmes mais tristes que já vi na vida. Labradores morrendo é fichinha perto desse aí.

Dançando no Escuro (2000)
4.67/5
Com Björk, Catherine Deneuve (Nip/Tuck), David Morse (À Espera de um Milagre) e Joel Grey (Cabaret)

#2 Rent (2005)
Rent trata de um grupo de amigos vivendo no East Side no fim dos anos 80, e usando a arte como protesto pelo pagamento do aluguel. Eles também tem que lidar com as drogas, a sexualidade e a sombra da AIDS.
Esse é um musical em que as músicas ocupam grande destaque e são bem empolgantes. É tudo muito bem coreografado, cantado e tem aqueles momentos musicais misturados com diálogos, que eu curto muito e que não costuma acontecer em musicais mainstream (à exceção de Dreamgirls, por exemplo). Minhas músicas favoritas são "Seasons of Love", "La Vie Boheme" e "Take Me or Leave Me". Aliás, a escolha de cenário também foi muito boa; a NY dos anos 80 está muito bem representada com tudo que a gente costuma conhecer, sem muita romantização. Outro ponto positivo é que o filme deixa bem claro que, ao contrário do que muita gente pensa, não só são os gays, trans e usuários de drogas que correm o risco de ter AIDS: ele mostra donas de casa, heterossexuais, pessoas "comuns" vivendo à sombra do vírus.
Mas o filme tem seus pontos negativos também. A maioria dos atores vieram direto do espetáculo da Broadway, e dá pra perceber que algumas atuações ficaram bastante teatrais. O filme também parece que não foi muito bem dirigido; a iluminação do cenário, por exemplo, às vezes é bem ruinzinha (em alguns momentos não dá pra ver o rosto dos personagens, rs).
Mas, em geral, o filme é uma surpresa muito boa, um daqueles musicais com uma história boa e números musicais ainda melhores. Fiquem ligadinhos.

Rent - Os Boêmios (2005)
3.67/5
Com Anthony Rapp (Uma Mente Brilhante), Rosario Dawson (Percy Jackson e os Olimpianos: O Ladrão de Raios), Adam Pascal (Escola de Rock), Idina Menzel (Glee), Jesse L. Martins (Law & Order), Tracie Thoms (O Diabo Veste Prada) e Wilson Jermaine Heredia (Ninguém é Perfeito)

#1 Les Chansons d'Amour (2007)
Esse é um dos meus filmes preferidos de todos os tempos. A temática, os diálogos, o cenário, os atores, os números musicais, tudo tão bem construído e com uma sensibilidade tão grande e tão invulgar, atípicos dos musicais mais comerciais, que tendem a ser bem dramáticos e grandiosos, fazem desse filme um dos melhores filmes franceses de todos - e, curiosamente, um dos filmes franceses menos conhecidos aqui no Brasil. As músicas são bem melancólicas e funcionam como diálogos e monólogos, apesar de nada ser muito objetivo.
O filme aborda a história de um ménage à trois interrompido por uma súbita tragédia e a reconstrução das duas partes que sobraram depois dela, tudo sob o ponto de vista de Ismaël, que vai ter que reaprender a amar e a se relacionar. 
O filme é de uma sensibilidade enorme (acho que já falei isso, né?) e aborda a sexualidade de uma forma bem natural, o que deixa tudo muito sutil, e a história acaba fluindo muito bem. É tudo bastante crível, os relacionamentos são mostrados da forma que são, cheio de idas e vindas, de altos e baixos (algo que me lembrou "Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos", do Woody Allen, que é um pouco mais cru que Canções de Amor).
Arrisco a dizer que é o melhor filme do Christophe Honoré - que, aliás, ano passado lançou outro musical, fiquem ligadinhos - e do Louis Garrel. Vale completamente a pena.

Canções de Amor (2007)
4.81/5
Com Louis Garrel (Os Sonhadores), Ludivine Sagnier (Peter Pan), Clotilde Hesme (A Bela Junie), Grégoire Leprince-Ringuet (A Bela Junie) e Chiara Mastroiani (A Bela Junie)

domingo, 8 de janeiro de 2012

Les Emotifs Anonymes (2010)

Comédias românticas francesas sempre me encantam. A fotografia, o jogo de cores, a trilha sonora... Tudo! E com Românticos Anônimos não foi nada diferente.


Angélique (Isabelle Carré) tem como a maior paixão de sua vida: o chocolate, e assim ganha a vida numa pequena fábrica de chocolate, na qual Jean-René (Benoît Poelvoorde) é o dono. E no meio desse cenário maravilhoso (e por que não delicioso?) os dois se encontram num desajeitado romance. Desajeitado pois ambos sofrem do mesmo "mal": a timidez, o nervosismo, toda aquela emoção a flor da pele, levando-os a situações engraçadíssimas, a fim de fazer acontecer o amor entre eles.

Uma comédia inocente e um tanto rápida (80 minutos apenas - e o filme tem o ritmo tão bom que parece durar menos ainda!) nos encanta não só pelas personagens (até mãe de Amelie Poulain está aí!), mas também pelos chocolates tão maravilhosos que aparecem no filme inteiro.

Românticos Anônimos (2010)
4.5/5
Com Isabelle Carré (Medos Privados em Lugares Públicos), Benoît Poelvoorde (Coco Antes de Chanel), Lorella Cravotta (O Fabuloso Destino de Amelie Poulain) e Lise Lamétrie (Van Gogh).

domingo, 25 de dezembro de 2011

Sushi For Beginners - Marian Keyes (2004)

Confesso que sou uma amante e tanto de Marian Keyes, suas palavras, apesar de simples, conseguem nos convencer da história de cada personagem de uma maneira incrível e só notamos isso quando nos vemos xingando alguma personagem ou torcendo para o futuro de outra. Foi assim com Férias!, Melancia, e não muito diferente com Sushi.


A história se passa ao redor de três mulheres que têm suas vidas interligadas - não, está longe daqueles clichês de comédias românticas que têm esses encontros um tanto óbvios. Lisa Edwards é aquela típica mulher espetacularmente linda, bem sucedida e incansavelmente uma... bitch. Ok, me desculpe, mas não deixa de ser verdade. Em seguida, conhecemos Ashiling Kennedy, uma moça que se preocupada com tudo e todos, mas a vida dela é quase uma das últimas coisas das quais consegue dar um jeito. Sua melhor amiga é Clodagh Kelly, uma mulher que, aparentemente, possui tudo para ser feliz: um marido apaixonado e bonito, dois filhos saudáveis, uma boa casa... Porém, algo parece não estar indo muito bem, é como um vazio a preenchesse e ela não tivesse muitas saídas.

E assim, o destino mexe com a vida de cada uma delas levando-as a caminhos inesperados. Essa é magia de Marian Keyes, quando nada mais tira da sua cabeça que isso vai acontecer, vem a história e nos conta aquilo. É impressionante!

Mas o que mais me marcou neste livro foi o que estava por trás do desfecho, não que houvesse uma intensa mensagem de moral, mas me deixou consciente de que a felicidade é assim.
Assim como? 

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

The Godfather Saga

Assisti recentemente à trilogia do O Poderoso Chefão e resolvi fazer um post único falando dos três filmes porque #1 eles são uma sequência e se complementam tanto que praticamente são um filme só #2 e isso deixaria o blog mais dinâmico, risos.


The Godfather (1972)

Antes de tudo, para aqueles que nunca levaram a sério (como eu) as pessoas que davam o título de "melhor filme da história" a O Poderoso Chefão e enchiam o filme de elogios, saibam que: eles não estão errados. Sério, o filme é incrivelmente único; são três horas de uma história extremamente densa e cheia de reviravoltas. Se você perder uma fala, o filme todo deixa de fazer sentido.
O filme trata basicamente da saga dos Corleone, uma família mafiosa cujo chefe, Don Vito Corleone, é um influente siciliano que luta para continuar seu império contrabandista em Nova York e se relacionar com outras famílias de mafiosos. 
Essa é uma sinopse rasa, eu sei, que não faz jus ao roteiro de The Godfather, um dos mais simples e bem articulados já escritos. Mas o filme me conquistou mais por detalhes e por alguns momentos, que são épicos. O início dramático com um homem dizendo a frase "eu acredito na América" e logo em seguida fazendo um discurso contraditório, mostrando que a América pode ser hostil ao seus visitantes; a trilha sonora sempre tensa, casando direitinho com as conversas ameaçadoras; e, acima de tudo, a atuação lifechanging de Marlon Brando. Sério, não dá para imaginar nenhum outro ator no papel de Don Corleone. A gesticulação cansada, os risos raros, a voz rouca que consegue ser amedrontadora e ao mesmo tempo afetiva. Aliás, o título funciona bem mais na versão original, O Padrinho, porque, para além de ser o grande chefe, Corleone era um padrinho para toda a comunidade italiana em NY, sendo bem amoroso para sua família e amigos - e bem ameaçador para quem não pertence a nenhum dos dois grupos. 

Enfim, o filme vale completamente a pena. É possivelmente um dos melhores filmes que eu vi na vida - todos os momentos com o Al Pacino, com a Diane Keaton (que eu amo desde Annie Hall) e com o <3 Marlon Brando <3 são sensacionais, emocionantes, tensos e dramáticos. Uma pena que só vi essa maravilha agora.

O Poderoso Chefão (1972)
4.98/5
Com Marlon Brando (O Último Tango em Paris), Al Pacino (Scarface), Robert Duvall (Impacto Profundo), James Caan (Nova York, Eu Te Amo) e Diane Keaton (Noivo Neurótico, Noiva Nervosa)
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The Godfather: Part II (1974)

São raras as vezes em que uma sequência é tão boa quanto ou ainda superior a obra original, e a parte 2 da trilogia do Godfather certamente está nesse grupo. Muitos discutem qual é o melhor, o primeiro ou o segundo, mas isso não é tão importante assim, já que ambos os filmes são maravilhosos. No segundo filme da trilogia, a gente acompanha os novos rumos da família Corleone, com o Michael (interpretado pelo Al Pacino) se tornando o novo Don. A família agora se mudou para Lago Tahoe e Michael tenta ampliar os negócios da família para a costa leste e Havana. Paralelamente, acompanhamos a história da ascensão de Vito Corleone (feito dessa vez pelo Robert De Niro), cinquenta anos atrás, sua chegada a América e a construção da sua família.
Enfim, o filme é fantástico! A junção das duas histórias (o difícil começo de Michael na liderança da família e a vida de Vito antes de se tornar o grande Don Corleone) funciona muito bem e, se a primeira e principal é muito boa, a segunda é excelente. O início da vida adulta de Vito na Nova York dos anos 10 é perfeito; a relação dele com a mulher (a cena dele dando uma pera para ela é uma das mais bonitas), com o filho e com os amigos que ele vinha fazendo; a inserção dele no mundo "do crime", tudo foi muito bem abordado, e a atuação do Robert De Niro está ainda melhor que em Taxi Driver. A história de Michael também é ótima; o novo Don não consegue expandir seus negócios e manter uma relação boa com a família como o antigo fazia, o que torna tudo muito dramático e imprevisível. Al Pacino tem nesse filme a melhor atuação de sua carreira, e consegue ser ainda mais badass que o Corleone original.

O Poderoso Chefão: Parte II é tão épico e marcante quanto o primeiro. É um filme de quatro fucking horas, mas que tem um ritmo muito bom e os diálogos e situações são quase todos muito tensos. E apesar de ter menos cenas sangrentas que o primeiro, todas são bastante recompensadoras, rs. Vale tanto a pena quanto o primeiro - a imagem de Michael como o novo padrinho é super marcante e as cenas de discussão entre ele e a mulher são i-nes-que-cí-ve-is. 

O Poderoso Chefão: Parte II (1974)
4.99/5
Com Al Pacino (Treze Homens e um Novo Segredo), Robert De Niro (Taxi Driver), Diane Keaton (Loucas por Amor, Viciadas em Dinheiro), John Cazale (O Poderoso Chefão) e Robert Duvall (Apocalypse Now)
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The Godfather: Part III (1990)

Muitos dizem que essa é a pior parte da trilogia. Bom, eu prefiro vê-la como a menos melhor, porque eu gostei bastante. É o filme menos marcante dos três, com poucas sequências memoráveis ou cenas sensíveis. Mas é o que tem o maior número de pancadaria, de explosões e de lavação de roupa suja. 
A história também é a menos interessante dos três filmes: no início dos anos 80, divorciado da esposa, Michael tenta legalizar os negócios da família, apesar de ainda lidar com negócios sujos com grandes mafiosos e com o Vaticano, e lidar com alguns grandes inimigos.
A Parte III é a que mais faz jus as raízes italianas da família, com muitas cenas em italiano passadas na Sicília e longos momentos dedicados à ópera. O Al Pacino envelheceu mal, mas sua atuação continua ótima (embora na Parte II ele esteja melhor), com ele segurando muito bem as partes mais dramáticas do filme, e a atuação da Diane Keaton também continua muito boa, já que aqui ela aparece um pouco mais. Apesar de não ser um filme de atuações maravilhosas como os anteriores, as relações familiares continuam bem abordadas.
O filme tem também algumas cenas longas demais e diálogos meio monótonos, além de algumas atuações bem fraquinhas, como a de Sofia Coppola - que aliás é filha do diretor.

Enfim, a última parte da saga lendária dos Corleone não deixa de ser ótima, apesar de não ter o mesmo charme dos anos 40/50 nem muitos momentos marcantes. Apesar de ter alguns problemas, o filme merece ser conferido; a produção e roteiro são bons e o final é lindo. Mas mais lifechanging que o Marlon Brando dando um tapa delicioso na cara de um cantor italiano chorão e que o Al Pacino gritando loucamente com os amigos, inimigos e com a esposa... definitivamente não é.

O Poderoso Chefão: Parte III (1990)
4.89/5
Com Al Pacino (Perfume de Mulher), Diane Keaton (Uma Manhã Gloriosa), Sofia Coppola (Star Wars: Episódio I: A Ameaça Fantasma), Andy Garcia (Confusões em Família) e Joe Mantegna (Os Simpsons - O Filme)

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Amy Winehouse - Lioness: Hidden Treasures (2011)

É impressionante o quanto Amy foi marcante mesmo com uma discografia tão pequena. Depois de sua morte, eu pensei que ficaria nisso mesmo - uma grande cantora com apenas dois grandes álbuns -, mas ela havia feito várias gravações, demos e covers que ficaram escondidos dos fãs por vários anos. Então fizeram um compacto com essas gravações num álbum lindo, que, apesar de ter poucas músicas originais, é repleto do amor que a Amy tinha pelo jazz dos anos 50/60, e que apesar de não ser tão marcante quanto o Frank e muito menos quanto o Back to Black, é um dos cds mais deliciosos do ano.

Amy Winehouse - Lioness: Hidden Treasures
4.47
/5
Lioness: Hidden Treasures não é lá um álbum que você vai se surpreender ouvindo; as regravações são bem ao estilo do Frank, de 2003, e as poucas faixas originais seguem a mesma linha do Back to Black, de 2006. Em compensação, algumas músicas são bem divertidas e razoavelmente surpreendentes, como "Like Smoke", que ela canta com um rapper aleatório e fica ecoando na cabeça depois de você ouvir. "Our Day Will Come" tem umas batidas de reggae bem legais e "Will You Still Love Me Tomorrow" tem um dos refrões mais deliciosos e uma daquelas letras melodramáticas que a gente adora. "The Girl From Ipanema" é. a. coisa. mais. linda. É bem mais agitada que a bossa nova original, mas ficou uma maravilha na voz da Amy. A melhor música do disco é, inegavelmente, "Body and Soul", um dueto dela com o Tony Bennett - dois cantores bem distintos, mas com vozes maravilhosas. É provavelmente o pico emocional do álbum, uma das faixas mais sentimentais e dramáticas da discografia da cantora. 
Lioness tem também demos ótimas, como "Tears Dry" e "Valerie", e regravações um pouco fraquinhas, como "Half Time", do Frank Sinatra, e "A Song For You", do The Carpenters, que são bem melhores nas versões originais. Já algumas composições originais, como "Best Friends, Right?" e "Between The Cheats", são bem divertidas.


Enfim, Lioness: Hidden Treasures é um daqueles álbuns ~para matar a saudade~ da cantora inglesa que reinventou um gênero praticamente esquecido. Amy exibe sua voz majestosa e deixa a gente triste por ter saído de cena tão rápido. Não é um dos melhores lançamentos do ano e não chega a ser tão inesquecível quanto os anteriores, mas é uma delicinha e uma das provas de que Amy foi e sempre será uma das melhores coisas que já surgiram desde sempre.
Ouça: "Will You Still Love Me Tomorrow", "Body and Soul" e "The Girl From Ipanema"

sábado, 10 de dezembro de 2011

My Fair Lady (1964)

Nuna noite chuvosa em Londres, um arrogante professor de fonética conhece Eliza Doolittle, uma vendedora de flores que fala terrivelmente mal. Quando ela vem lhe pedir para que ele a ensine a falar corretamente, um amigo do professor aposta com ele se ele conseguiria transformá-la numa dama num curto intervalo de tempo.
Essa é a história de Minha Bela Dama, filme considerado um dos maiores clássicos entre os musicais de todos os tempos, que tem como protagonista a linda da Audrey Hepburn, um dos rostos mais conhecidos/adorados de Hollywood.

<3 <3 <3
Sabe aqueles filmes ingênuos que ganham mais pela simpatia com que a história é contada do que pela própria história? Então, Minha Bela Dama é um desses. É um filme típico da década em que foi produzido, com cenas longas, diálogos divertidos e roteiros bem leves. A atuação da Audrey Hepburn está muito boa; ela consegue fazer a gente rir bastante com o sotaque esganiçado dela e seu comportamento. A maioria dos números musicais são ótimos - apesar da Audrey ter sido dublada nas músicas, rs - e funcionam no filme, sendo bem naturais e divertidos. Todos os personagens são bacanas - exceto o pai da Eliza, que é um saco - e até o Professor Higgins, um personagem arrogante e misógino que tem mais números musicais do que deveria, é divertido. O filme tem TRÊS FUCKING HORAS de duração, mas a história flui tão sutil que a duração nem parece tão assustadora - no meu mundo, só O Poderoso Chefão tem o direito de durar tanto, e olhe lá.

"i ain't dirty! i washed my face and hands before i come, i did."
Apesar de ser um filme bem leve e inocente, senti falta de momentos épicos, entende? Afinal, ele ganhou o Oscar de melhor filme, vencendo inclusive de Dr. Fantástico, clássico do Kubrick. O filme tem um tom meio romance/pastelão que funciona muito bem, mas não o suficiente para que ele seja considerado um grande clássico. Além disso, o filme demora um pouco para chegar no seu ápice, e, quando chega, é meio decepcionante. E o final, apesar de fazer todo sentido, é meio forçado demais.
Enfim, Minha Bela Dama é um feel good movie enorme bem leve e bonito, com interpretações ótimas e músicas bem agradáveis, apesar de tudo ser um pouco impregnado com o sexismo da época. Achei melhor que Bonequinha de Luxo, outro pequeno clássico com a Audrey, e inferior à A Noviça Rebelde. Mas vale completamente a pena.

Minha Bela Dama (1964)
3.79/5
Com Audrey Hepburn (Bonequinha de Luxo), Rex Harrison (Cleópatra), Stanley Holloway (O Mistério da Torre) e Wilfrid Hyde-White (Adorável Pecadora).

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Melancholia (2011)

Um dos grandes problemas da vida em sociedade é que poucas pessoas parecem aceitar que a melancolia é fundamental. A tristeza, a depressão, tudo isso faz parte da vida do ser humano - e, em algumas pessoas, ocupa a vida inteira.

"life is just on earth, and not for long"
Lars Von Trier é um dos diretores mais depressivos e angustiantes do cinema. Todo filme dele tem uma visão bastante pessimista em relação a vida, a humanidade e a sociedade (além das críticas aos Estados Unidos). Melancolia não é muito diferente dos seus Dogville (com Nicole Kidman se ferrando o filme todo), Dançando no Escuro (com Björk se ferrando o filme todo) e Anticristo (com Charlotte Gainsbourg se ferrando o filme todo). Em Melancolia, ficamos sabendo que a Terra vai colidir com um planeta chamado Melancolia (CÊ JURA) e acompanhamos eventos que ocorrem enquanto esse planeta se aproxima. Vemos a história de Justine, uma noiva melancólica no dia do seu luxuoso casamento em um castelo da Suécia, e de Claire, que recebe a irmã depressiva em sua casa faltando poucos dias para o fim do mundo.
A sentimento apocalíptico aqui é bem diferente dos blockbusters da vida, com etês ou grandes catástrofes. Em Melancolia, a humanidade não pode fazer nada para se defender, a não ser fazer com que cientistas neguem os fatos. Na primeira parte, acompanhamos o triste casamento de Justine. A gente percebe desde o início o desconforto com aquele matrimônio pela própria noiva; ela parece gostar do seu noivo, mas, na maior parte do filme, dá pra notar que ela se sente sufocada pela mãe, pelo chefe, pelos cuidados da irmã... (até o sexo é mostrado de forma angustiante). Justine passa toda a primeira parte do filme usando o vestido de noiva e está sempre desolada, fingindo estar contente para não decepcionar os outros. Muitos consideram a primeira parte bem enigmática; por que, afinal, ela está sempre triste? Acho que ela já está tomada pela melancolia, já não consegue viver sem ela. Como se ela já tivesse sido afetada pelo planeta que está chegando.


A segunda parte foca na vida familiar de Claire, que recebe a irmã Justine em sua casa em um estágio bem avançado de depressão, e para mim é bem mais interessante que a primeira. Claire está muito preocupada com a vinda do Melancolia, temendo pelo futuro do filho (quando ela fala isso com a irmã, ela ouve um "A vida na Terra é má [...] Ninguém sentirá falta dela"), enquanto Justine já parece ter se conformado. O desespero de Claire diante do fim de tudo que ela conhece, de tudo que ela ama, é muito bem explorado, e a gente se desespera junto com ele a cada vez que o planeta aumenta de tamanho no horizonte. O sentido de melancolia é melhor captado na primeira parte, mas a segunda me afetou muito mais. Se na primeira a gente nota uma crítica a instituição casamento e aos outros contratos sociais, na segunda a gente nota uma crítica discreta porém feroz a religião, feita de uma forma bem sagaz (uma cabana de gravetos servindo de proteção para o fim dos tempos).
Quanto aos aspectos técnicos, as atuações da Kirsten Dunst e da Charlotte Gainsbourg - que raio de sobrenome é esse? - estão FANTÁTICAS, bem memoráveis. É por causa dessas duas, combinado com uma trilha sonora, uma fotografia e uma direção (a câmera trêmula do Trier é bem atípica, além dos cortes bruscos no meio das frases) bem sofisticados, ajudam a tornar o filme um grande épico sobre a psicologia humana.


Melancolia é como um anti-Árvore da Vida (foi até apelidado de Tree of Death nos EUA): é pessimista, ateu, cético e violento. Vale muito a pena, principalmente para quem gosta de psicologia, do Lars Von Trier, literatura clássica e cinema russo (tem muitas referências no filme). Devo admitir que esperava um pouco mais; Von Trier tem filmes mais poderosos, como Dogville e Dançando no Escuro, apesar de Melancolia ter uma temática mais universal. Mas ainda assim é um dos filmes mais interessantes e angustiantes que eu já vi.

Melancolia (2011)
4.25/5
Com Kirsten Dunst (Homem Aranha), Charlotte Gainsbourg (21 Gramas), Charlotte Rampling (Não Me Abandone Jamais), Alexander Skarsgard (True Blood)